18 de julho de 2018

Entrevista: Carol Bensimon – Jovens escritores brasileiros

A literatura nacional contemporânea está recheada de jovens que vêm se destacando dentro e fora do Brasil com obras detentoras de estilos inovadores e de temas valiosos. Carol Bensimon é um dos grandes nomes dessa nova geração de escritores brasileiros. Em 2010, ela foi uma das finalistas do Prêmio Jabuti na categoria romance com a obra “Sinuca embaixo d’água”, publicada pela Companhia das Letras. O livro também chegou à final do Prêmio São Paulo de Literatura. O nome da Carol também apareceu, em 2012, na revista britânica Granta na lista “Os Melhores Jovens Escritores Brasileiros”.

A escritora gaúcha de 35 anos também é tradutora, mestre em Escrita Criativa e doutora pela Sorbonne Nouvelle em Paris. Em seu mais recente livro, “O Clube dos Jardineiros de Fumaça” (Companhia das Letras, 2017), Carol conta a história de Arthur, um jovem professor brasileiro que mudou-se para a Califórnia após ter cultivado maconha para auxiliar no tratamento médico de sua mãe.

Neste mês, comemoramos o “Dia do Escritor” no dia 25 de julho e, para comemorar, a Transamerica Expo Center teve a honra de conversar com a Carol Bensimon sobre a sua última obra e suas perspectivas sobre o cenário literário nacional. Confira o bate-papo:

Você foi incluída, em 2012, na lista dos “Melhores Jovens Escritores Brasileiros” da revista Granta. Você acredita que exista algum aspecto que unifique esses jovens em termos de estilo literário ou temas? Como você definiria essa jovem literatura brasileira?

É sempre difícil fazer esse tipo de análise, e qualquer generalização será incorreta ou, no mínimo, imprecisa. Há gente escrevendo sobre ditadura militar, a busca por um avô no litoral de Santa Catarina ou sobre um parque de diversões que guarda um terrível segredo. Alguns fazem muita pesquisa e criam universos enormes em seus livros, outros preferem trabalhar a subjetividade de um único personagem. Em comparação com as gerações anteriores, acho que dá para dizer que os escritores dessa geração têm influências muito diversas, frequentemente de fora do país. A noção de pertencimento também é diferente. As identidades são pulverizadas.

Carol, em sua última obra, “O Clube dos Jardineiros de Fumaça”, você trata sobre o uso medicinal da maconha. Como foi o processo criativo desse romance?

Para escrever esse livro, vivi 8 meses em um lugar bem rural da Califórnia, onde se cultiva a maior parte da maconha consumida nos Estados Unidos. Conversei com muitas pessoas, visitei plantações e li exaustivamente sobre o assunto. O livro tenta dar conta de muitas coisas – de dramas pessoais à história mais global da proibição da maconha –, e as histórias que envolvem canábis medicinal são interessantíssimas. Só pra dar um exemplo: Robert Randall era um americano que, antes dos trinta anos de idade, recebeu do oftalmologista a notícia de que ia ficar cego em breve. Ele tinha um glaucoma severo e nenhum tratamento médico funcionava. Um belo dia, Randall descobriu que, quando fumava maconha, sua pressão ocular diminuía a níveis seguros e sua visão melhorava. Foi estudado por universidades. Provou-se que a canábis era eficaz. Começou a plantar em casa, foi preso. Seu advogado decidiu que, além de tentar safá-lo da cadeia, ia processar o estado americano e exigir que o próprio estado fornecesse para Randall a maconha que ele precisava consumir. Assim, Robert Randall se tornou o primeiro americano a receber baseados do governo, na década de setenta. Nunca ficou cego.

Existe um fio condutor entre as suas obras ou você as compreende como histórias totalmente individuais?

Penso cada livro como algo fechado em si mesmo, mas acho que, se você pegar todos eles, vai encontrar temas comuns e algumas imagens recorrentes, como botas e piscinas vazias.

Levando em consideração o papel das redes sociais e da internet na contemporaneidade, de que maneira você acredita que esse contexto tem beneficiado escritores e suas obras?

As redes sociais aproximam o escritor do autor, e essa troca é ótima. Ao mesmo tempo, as redes são perigosas porque estimulam o narcisismo e minam a concentração que a literatura exige. É sempre difícil achar o equilíbrio entre presença e ausência. Mas é claro que isso não é só um problema de quem escreve. Todo mundo, de uma forma ou outra, está tentando lidar com essa questão.

Neste mês, comemoramos o Dia do Escritor e, por isso, gostaríamos que você expressasse a importância desse profissional para a sociedade.

Para mim, a ficção tem um poder muito grande. Além de nos transportar para outros lugares, ela nos coloca na pele de outras pessoas, e isso é maravilhoso tanto pelas semelhanças – nos identificamos com as personagens, elas têm conflitos parecidos com os nossos – quanto pelas diferenças. Empatia, imaginação, autorreflexão. Essas são coisas que a leitura oferece e que a gente não pode perder.

Você já conhece os livros da Carol Bensimon? Conte para gente nos comentários.

 

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