30 de setembro de 2014

Entrevista: Fred Gelli

Fred Gelli entrevistado pelo blog Transamerica Expo Center
Foto: Inventório

Ele é considerado uma das 100 pessoas mais criativas no mundo dos negócios, segundo a prestigiada revista internacional Fast Company. Seu talento venceu uma disputa concorridíssima entre 139 adversários brasileiros para criar a marca dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos que acontecem no Rio de Janeiro, em 2016.

Fundador da agência Tátil Design de Ideias e professor de design da PUC do Rio de Janeiro, o designer Fred Gelli possui a criatividade e o empreendedorismo pulsando nas veias. Apostou na sustentabilidade quando a palavra ainda não era tendência e formou a agência responsável por criar projetos ecologicamente corretos. Seu trabalho conquistou grandes clientes, além de possuir mais de 100 premiações no currículo.

Nesta entrevista, o brasileiro de Petrópolis compartilha seus valores e ensinamentos, fala do momento especial pelo qual passa a sua carreira e explica a importância da criatividade no cenário atual.

 

Você sempre soube com o que gostaria de trabalhar? Em que momento da vida descobriu que gostaria de se tornar designer?

Eu achava que queria ser engenheiro, tanto que me matriculei no curso. Mas poucas semanas depois descobri que não era o que eu queria, então fui para o curso de design. Sou formado em design gráfico e de produto pela PUC do Rio de Janeiro.

 

Quando e como surgiu a ideia de unir elementos da natureza ao design?

Uma das primeiras aulas que tive marcou profundamente a minha visão sobre o design. Foi com a professora Ana Branco. Suas aulas aconteciam em uma cabana, com uma fogueira no centro, almofadas feitas com sacos de sisal e folhas. Mostrei algumas embalagens de biscoito para ela, que me pediu para refletir sobre outras embalagens, como a barriga da minha mãe, o planeta. Foi a partir desse dia que comecei a me inspirar nessa grande projetista que é a natureza.

 

Qual é o segredo para transformar projetos ecologicamente corretos – que podem ser considerados previsíveis e monótonos – em criações de sucesso?

Os projetos ecologicamente corretos não devem ser ecochatos, mas ecosexies. A natureza tem formas incríveis que atraem seus públicos – insetos e pássaros – porque conhecem seus comportamentos, desejos e tem formas que não são nada monótonas. Existem muitas maneiras de considerar o baixo impacto ambiental, sem perder uma dimensão importantíssima que é a de alto impacto sensorial.

 

A agência Tátil Design de Ideias – da qual é fundador e sócio – cria projetos que seguem os conceitos do ecodesign. O que o meio ambiente representa para você e a sua empresa?

Nós somos parte do meio ambiente. Cada escolha que fazemos tem um impacto que precisa ser considerado. Por isso, quando pensamos numa embalagem, precisamos pensar em toda a cadeia. Escolher materiais, pensar na forma de uso, de transporte, de descarte. Hoje estamos pensando na natureza como inspiração para fazer negócios. Essa é a tendência da economia colaborativa. Precisamos pensar que somos menos consumidores e mais desfrutadores. Sair da lógica do ter para a lógica do compartilhar.

 

A revista Fast Company te escolheu para integrar o time das 100 pessoas mais criativas no mundo dos negócios. Na sua opinião, ao que se deve a sua presença no ranking?

Fico muito honrado em estar ao lado de pessoas com conhecimentos e saberes muito diferentes do meu. Sou o representante do design nesse ranking. É um privilégio e uma responsabilidade. A abordagem de design é muito valorizada porque ela costura disciplinas, pensa de forma sistemática, sabe resolver problemas de forma rápida, coletiva, otimizada.

 

Para você, qual é a importância da criatividade no mundo dos negócios?

O mundo está cheio de imensos desafios. A população deve chegar a 9.5 bilhões em 2050 e hoje já utiliza 1,5 vezes os recursos do planeta, com uma tecnologia que cresce exponencialmente e ajuda a criar novas indústrias. Tudo isso são problemas que só serão resolvidos com muita criatividade. Atualmente, as marcas que representam grandes corporações estão sendo convocadas para resolver parte desses desafios e, por isso, precisam ser mais do que nunca, muito criativas e inovadoras.


Imagem: Agência Human

 


Imagem: G1

Como foi criada a marca dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos do Rio de Janeiro? Quais foram as suas principais inspirações?

A marca dos Jogos Olímpicos foi o resultado de uma grande concorrência entre 139 empresas brasileiras. Chegamos ao final de todas as etapas com uma marca aprovada por unanimidade, a primeira tridimensional da história dos jogos. Envolvemos todas as equipes dos dois escritórios – Rio de Janeiro e São Paulo – para desenhar a estratégia da marca e depois transformá-la em símbolo, logotipo, expressões visuais e verbais. A marca Paraolímpica veio depois, com um convite para garantirmos um alinhamento entre as duas. Nesse caso, inspirados pelo design universal, desenhamos uma marca multissensorial que pode ser percebida com todos os sentidos.

 

O que você mais gosta na criação da marca olímpica?

Gosto de pensar que ela é um reflexo de um trabalho coletivo, essa energia está muito presente no resultado final. Por isso, ela é tão humana, tem tanta capacidade de emocionar e engajar. Gosto também do fato dela ser uma marca escultural como é o Rio de Janeiro: uma cidade com muitas formas, curvas, volumes. Mas o que mais gosto é a capacidade que ela tem de trazer significados, que nós mesmos não tínhamos previsto, que cada um que interage com ela vai percebendo e se apropriando.

 

Na sua opinião, qual é a importância da identidade visual no universo corporativo e a sua aplicação em eventos – de qualquer dimensão?

A identidade visual deve ser a melhor expressão de uma estratégia. Ela garante pregnância, alinhamento e síntese.

 

Você é professor do curso de Design da PUC-RJ. Quais são os ensinamentos que considera primordiais para os seus alunos levarem para a vida profissional?

O principal ensinamento é que ninguém deve desenhar para alguém, mas com alguém. Isso faz toda a diferença.

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