Entrevista: a inserção das mulheres no agronegócio
Carla Rosa de Freitas é representante do Grupo NFA – Núcleo Feminino do Agronegócio. Em entrevista ao Transamerica, ela fala sobre a gestão de agronegócio. Confira!
- O agronegócio sempre foi uma área com profissionais majoritariamente do sexo masculino. Como tudo isso começou para você?
Eu na verdade venho de uma família de pecuaristas, meu pai era pecuarista e eu sempre ia para fazenda, o acompanhava. Quando ele faleceu eu assumi as fazendas dele. Antes, eu trabalhava com comércio, mas após a morte do meu pai eu acabei assumindo os negócios da fazenda.
- Quais são os desafios que você encontra no cotidiano por ser uma mulher à frente do setor pecuarista?
Os únicos desafios que eu tive foram exatamente no começo pela minha falta de experiência, meu pai era um fazendeiro de personalidade forte, muito conhecido. Os meus primeiros desafios foram entender o assunto, formar equipes, fazer um planejamento do que eu pretendia. A partir daí, eu não tive mais nenhum problema por ser mulher, eu toquei a fazenda como sempre toquei meus negócios no comércio. Meu maior desafio foi descobrir a fundo como era trabalhar com o agronegócio, depois seguiu tudo tranquilamente.
- Como você encontra motivação neste cenário predominantemente masculino?
Na verdade, foi a necessidade. Eu não fui motivada por nada a não ser a necessidade que eu tinha de continuar o trabalho. Eu não tinha escolha, precisava fazer. Minha motivação foi meu pai que sempre tocou isso com muito esmero e a necessidade.
- Qual a dica para fazer uma sucessão bem sucedida?
A sucessão é uma coisa muito complexa. Primeiramente, você tem que pensar que está apenas ocupando uma cadeira e ela terá que ser ocupada futuramente por outra pessoa. Meu pai não teve esse pensamento, ele achava que a cadeira dele seria infinitamente dele. Quando ele percebeu que iria falecer e ele teria que fazer uma sucessão, ele fez sem o preparo adequado. Eu como vim desse tipo de sucessão e vi a dificuldade que é você fazer com que seu filho consiga ter a mesma sintonia, já fui observando a rotina e direcionando meus filhos, incentivando, mostrando, fazendo com que eles tenham o mesmo amor que eu tenho. Temos que pensar que essa cadeira não é de ninguém, ela é uma cadeira que a gente ocupa e depois temos que largar para outra pessoa. Acho que esse é o caminho do sucesso de uma sucessão.
- Muitas outras mulheres começaram a empreender no setor agropecuário devido à linha sucessória. Qual seria a dica para as novas sucessoras que estão iniciando este papel?
Acho que primeiramente, as pessoas que começam tem que aprender e se dedicar muito ao negócio. Saber a fundo o que é o negócio da sua fazenda, buscar o conhecimento de cada propriedade, se conectar com grupos que possam lhe passar essas informações e a partir daí fazer um planejamento. É preciso ter em mente que planejamento e gestão de fazendas são as ferramentas mais importante para começar a tocar o negócio. Outra coisa importante é você ter a humildade de perguntar, saber que você vai errar e não ter medo. O agronegócio hoje é muito mais tecnológico do que na época do meu pai, você tem que saber que vai precisar estar conectada completamente com esse negócio e saber tudo o que está acontecendo.
- Qual o melhor momento para assumir uma sucessão?
Qualquer pessoa precisa saber que ocupa somente uma cadeira. Quem gerencia o negócio tem que planejar ao mesmo tempo a sucessão. Mesmo que você não tenha filhos, terá que deixar para alguém para que o seu negócio funcione sem você estar presente.
- Qual a importância do Congresso Nacional das Mulheres no Agronegócio para as empreendedoras agropecuárias?
Quando eu comecei a pensar que existia uma dificuldade muito grande de nós mulheres estarmos reunidas e poder conversar sobre o assunto, eu tinha em mente que a primeira coisa que precisava ser feita era um congresso com milhões de mulheres com o mesmo problema. Mas, há 20 anos, as mulheres que eu conversava pensavam que existiria um preconceito. Na época, o pensamento foi formar o Grupo Feminino do Agronegócio, que eu fui a idealizadora e primeira presidente. Precisávamos ter um ambiente feminino para tocar em assuntos que eram tidos como masculinos. Mas na verdade, hoje se você olhar nas universidades, mais de 50% das pessoas que fazem agronomia e veterinária são mulheres, hoje não é mais um setor masculino, simplesmente é um setor que as mulheres estão ingressando.
Existiu também uma mudança no comportamento da mulher, elas começaram a ver o agronegócio como uma área muito interessante. O Congresso Nacional das Mulheres no Agronegócio é importante para que outros grupos femininos surjam na própria sociedade que trabalha nesse segmento. É muito legal para quem já está trabalhando com isso dar a cara para mostrar que é um negócio rentável.
- Para você, qual o papel da mulher do agronegócio?
As mulheres são protagonistas! Elas podem ser elas mesmas, mostrar que foi a profissão que escolheram. Não importa o que os outros pensam. É preciso fazer a profissão ter a sua bandeira, seu ideal.
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