Entrevista: Luiz Bueno – Músico e coach musical
Neste dia 22 de novembro é comemorado o Dia da Música e dos Músicos, e para aproveitar a data mais que especial, o Transamerica Expo Center foi até o músico paulistano Luiz Bueno, famoso pela parceria DUOFEL que tem com o amigo alagoano Fernando Melo. Fiel às suas propostas musicais, o duo já ultrapassou os 30 anos de carreira e continua em atividade, sempre interagindo com o público nas redes sociais.
Luiz, além dos palcos, também atua no escritório e nos estúdios como coach musical. A opção por ajudar aspirantes veio da sensação de ter algo para passar adiante e ajudar pessoas, que assim como ele fez no passado, batalham para ter um lugar para cantar e tocar.
Confira na íntegra a nossa entrevista:
Como foi adaptar no meio musical culturas tão diferentes como a paulista e a alagoana com o Fernando?
Sobre essa questão das nossas culturas diferentes, posso dizer que talvez esse seja o nosso grande tempero. Essa hibridez tem efeito na nossa música, e no começo a gente até falava que DUOFEL é um mandacaru de concreto. Os músicos do Brasil correm para São Paulo e Rio de Janeiro, onde há uma possibilidade maior da sua música aparecer, e o Fernando escolheu São Paulo uns quatro anos antes de começarmos o nosso duo. Nessa época ele já tinha sido mordido pelo “bichinho” da poluição e do concreto. O que é interessante é que por mais que cada um tenha a sua própria cultura, nós queremos sempre parecer com o sucesso internacional, aquele que toca no rádio, então não foi difícil um se adaptar ao outro. Ambos curtiam Beatles, Led Zeppelin, Pink Floyd… estávamos descendo o rio no mesmo bote. A química flui rapidamente desde o nosso primeiro encontro, mas hoje, que estamos mais velhos, é ainda mais fácil ver essas culturas diferentes aparecendo mais, dando o tempero que falei.
Um repertório tão amplo como o de vocês se expande só com a inspiração ou também é fruto da demanda do mercado e do público?
As nossas criações permeiam a experimentação. Nós buscamos experimentar todo tipo de manifestação musical, desde que aquilo nos interesse. Nunca fizemos nada voltado para satisfazer o público. Até mesmo o nosso trabalho com os Beatles não tem esse propósito, mas sim trazer um novo público para a nossa música. Essa sim pode ser chamada de uma ação de mercado. Perdemos muito público na Era Digital, os downloads acabaram com muitas gravadoras grandes e isso nos prejudicou. Esse tipo de ação, apesar do propósito dela, é feita a partir de uma verdade nossa, porque tanto o Fernando, quanto eu, começamos nossas carreiras tocando em conjuntos de bailes, pensando na paixão pela música e nos inspirando naquilo que bandas como os Beatles faziam.
Sobre seu trabalho de coaching musical, como você vê o impacto dele em seus clientes?
Eu fiz um curso de gestão de grandes empresas na Amana-Key, e lá eu aprendi que a gente pode ajudar os outros nesta idade que eu estou, depois dos 60. Passar adiante o que aprendemos na vida, e isso nos traz satisfação. O que eu vejo dessas pessoas que fui mentor é que pelo menos 90% dessas pessoas encontraram seus caminhos e estão vivendo da música. São poucos casos que não conseguiram se mover: um deles porque ele fez o curso, mas passou o tempo todo me peitando, não se entregou ao que ele buscava. Teve outro que não possuía a música para produzir, tinha apenas o sonho e achou que aprendendo o funcionamento mais teórico ele teria sucesso. Por outro lado tenho bons resultados em diversos gêneros, inclusive no pop, mpb e outros… essas pessoas se deram bem e estão em franco crescimento. Eu posso dizer que nem falo de música e detalhes técnicos para quem me procura, mas falo de princípios, induzo cada um a buscar, indico as estratégias e como usá-las para se destacar.
A iniciativa de ingressar nesse projeto de coaching veio de que forma? É por ver despreparo em muitos desses artistas mais inexperientes?
Como eu disse anteriormente, fiz o curso na Amana-Key, mas na época eu também participava de um grupo de expansão da consciência. Eu senti a vontade de abrir esse novo caminho, fazer algo diferente pelas pessoas. Apesar da vontade, eu não vivo disso, nem faço muita propaganda, mas ajudo todos que me chamam, porque muito disso vem do fato de que eu não tive ajuda, foi muito difícil, mesmo com a musicalidade a flor da pele. É difícil ser tímido e inibido em um mundo tão cheio de egos, por isso quero preparar esses artistas e produtores. É muito prazeroso ter esse dever cumprido.
Neste próximo dia 22, o Dia do Músico, o que você tem a dizer para quem pensa em investir em si mesmo e ser músico (cantando, compondo, tocando etc)?
O que eu tenho a dizer é: se unam. Sinto que hoje os músicos são muito sozinhos, querendo fazer tudo sozinho, querendo gravar em casa, não compartilha a parte musical, não criam uma “turma”, digamos. Uma das coisas que eu falo no meu curso é justamente isso: quer chegar rápido? Vá sozinho. Quer ir longe? Vá junto. Tem que trocar música, ter experiências em conjunto. Os músicos precisam se unir, sair da casinha, compartilhar a música. Toquem para as pessoas. Uma última coisa: façam tudo isso ralando, todos os dias. Um músico não vive de uma composição, um canto e pronto. É como uma profissão, precisa de dedicação, senão o músico é esquecido e fica gritando por aí, como o Lobão, que foi esquecido pela mídia, mas quer ser lembrado, então ele grita.
Qual é a sua experiência mais valiosa nestas décadas de carreira de sucesso?
A minha experiência mais marcante é que eu aprendi nesses anos uma questão muito interessante: humildade, respeito, pontualidade, dedicação, muitas horas de dedicação, mais horas de dedicação. Esses fatores vão te ajudar a produzir uma música verdadeira que não atenda o mercado, que não busque apenas o sucesso. Quando o sucesso bater na porta, mesmo que demore, vai ser muito melhor. Tem que trabalhar.
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