Entrevista: Marcos Cabelo – Mestre de cerimônias
A maioria dos eventos, independentemente do porte, possui alguém para comandar as ações e dar uma sequência lógica à participação dos presentes e às atrações, função comumente empregada aos mestres de cerimônia. Esses profissionais são conhecidos pela desenvoltura com o microfone nas mãos, bom humor e a habilidade de se comunicar, virtudes muitas vezes necessárias para conduzir eventos.
Exemplo disso é Marcos Cabelo, mestre de cerimônias muito requisitado na cidade de São Paulo pela irreverência e estilo próprios, e a equipe do Transamerica Expo Center teve a oportunidade de conversar com o profissional. Você confere na íntegra o nosso papo e conhece um pouco sobre esse trabalho tão interessante e cheio de possibilidades:
De onde veio a iniciativa de ter a sua profissão? Já havia vocação desde criança ou alguém te indicou esse ramo?
Para falar a verdade, eu fui muito pouco ao teatro, não me interessava por isso, mas com 19, 20 anos eu fui uma vez para o interior e vi um desfile de moda, coisa que eu também nunca tinha visto, e lá tinha um cara que desfilava e mexia com o público. Eu era muito tímido na época, mas aquilo me encantou e eu pensei: eu queria ser assim, passar essa alegria. Tanto que isso é o meu propósito até hoje. Na época eu tinha problema de dicção, então fui atrás de um curso de teatro, até que vieram testes de comercial e tudo mais. Eu nunca falei “não”. Faz? Faço! Imita? Imito! Quando eu vi, estava fazendo o que faço hoje.
Como funciona a preparação de um mestre de cerimônias para cada evento? Você estuda cada público?
Você estuda, pensa no que falar, algumas piadas… Tudo isso está no seu “HD”, então você em algum momento vai usar. Você tem que respeitar o público. Eu sou que nem o Fred Astaire: danço de acordo com o parceiro. Muitas vezes eu vou com a intenção de contar uma piada, mas tem criança no público, aí preciso segurar a onda. Pode haver a orientação do cliente também para não contar piadas, seguir o texto e ter uma postura mais séria… Mas eu sou um mestre sem cerimônias, de improviso, de brincar, gosto de prestar atenção nas apresentações, me envolver, tudo ali no momento, ao vivo. É uma questão de jogo de cintura, pensamento rápido. Nós também estudamos, pedimos informações para o cliente, mas quem põe o “tempero” sou eu. Tem que se atualizar a todo mundo, e hoje é fácil com a tecnologia.
Conte-nos uma situação que você precisou de jogo de cintura para lidar com um imprevisto?
Sobre isso, eu tenho até uma palestra chamada “Jogo de cintura”, porque em todos os eventos é preciso ter, afinal, a gente nunca sabe o que vem pela frente, por isso a preparação. Eu me lembro de um caso em que eu fui entregar um prêmio durante um show do Kid Abelha em uma casa de espetáculos em São Paulo. A empresa de cartões de crédito estava premiando a pessoa com uma quantia quase que para toda vida e estávamos lá eu e o presidente. O show já estava atrasado e eu estava entrando com um terno amarelo, e nisso todo mundo começou a me xingar… Eu e o presidente nos olhamos, rimos, fizemos o que tínhamos que fazer e saímos. Foi uma das piores situações e um exemplo que mostra que você depende do momento e das circunstâncias para fazer a coisa certa.
Você acha que os mestres de cerimônia podem estar em qualquer evento ou existem nichos específicos?
Existem eventos em que as próprias pessoas responsáveis gostam de fazer o processo. Eu – como um mestre sem cerimônias que veio do teatro e faz personagens, não tem problema de se vestir e travestir – já fiz de tudo: lançamento de campanhas, premiações e outros tipos, mas em vários deles eu pensei: um mestre de cerimônias comum não caberia aqui. Se eu fizer uma piada ruim ou falar algo inapropriado, o máximo que pode acontecer é a empresa não me chamar mais, por isso é preciso respeitar e seguir a linha que a empresa pede. Por mim, todos os eventos deveriam ter um mestre de cerimônias.
Em eventos corporativos, muitas vezes o tom é um pouco mais sério. Como a equipe do evento e o próprio mestre de cerimônia podem agir para que ele seja atrativo e os convidados tenham a melhor experiência?
Tem uma coisa que eu aprendi em uma palestra musical: o contrário de “divertido” é “chato”, não “sério”. É possível ser sério e divertido ao mesmo tempo, ser simpático ajuda muito. As pessoas querem dar risada e se divertir mesmo em situações ruins, que são cada vez mais comuns hoje. Mas, por exemplo: eu tive um evento no dia seguinte a tragédia do time de Chapecó e não tinha como evitar de falar: olha pessoal, sentimos muitos. Essas coisas fazem a gente aprender a viver cada dia como se fosse o último.
Facilidade na fala e irreverência são algumas das qualidades obrigatórias de cada mestre de cerimônias, mas quais dicas você dá para quem quer seguir uma carreira nessa função?
Eu nunca almejei chegar nesse ponto, mas hoje eu me considero realizado nesse mercado, construí o nome Marcos Cabelo e é muito bacana. Por não ter almejado (e me preparado), encontrei muitas dificuldades na caminhada… Por causa da dicção eu procurei o teatro, e lá ganhei expressão corporal, me desinibi e desenvolvi as habilidades que eu nem sabia que era capaz de fazer. Então se o problema é ser inibido, ligue a câmera e fique falando, dance, use o que a tecnologia nos oferece. Um curso de oratória também é uma alternativa. O importante é não desistir depois dos primeiros erros.
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