Entrevista: Roberta Palma – Corridas, saúde e profissionalismo
Em meio a agitação da cidade de São Paulo, a jornalista Roberta Palma é apaixonada por corrida de rua e está envolvida com produção de eventos desde a infância, quando ajudava os pais nesse tipo de atividade. Ela uniu sua paixão com seu trabalho: organiza eventos no setor de corridas de rua e trail, já produziu Meia Maratona de SP, Maratona de SP, Volta Ciclística do Estado de SP, entre outras.
Mesclando horas de trabalho com momentos de lazer e atividade física ao ar livre, a corredora busca um equilíbrio entre a vida pessoal e profissional, muitas vezes unindo as duas coisas. Simples iniciativas como ir à uma reunião de bicicleta ou planejar encontros com clientes próximos a parques para fazer exercícios depois podem ser muito benéficas para o corpo, segundo Roberta.
Durante entrevista descontraída com a jornalista, ela contou um pouco sobre sua rotina, a paixão pelas corridas e deu dicas sobre planejamento de eventos. Confira abaixo o nosso papo na íntegra:
Como é para você o fluxo entre o meio empresarial e a carreira fitness?
Eu me considero uma jornalista empreendedora que corre, é um pouquinho diferente de uma carreira fitness. Eu vivo de corrida, mas penso nisso como esporte, qualidade de vida e saúde sempre de uma forma estruturada. Eu tenho uma rotina onde eu trabalho de 11 a 16 horas por dia de segunda a segunda, porque quando trabalhamos com eventos, especialmente corridas de rua, as coisas acontecem também aos finais de semana. Eu criei uma regra comigo mesma: tenho que fazer atividade física por pelo menos uma hora e meia em cinco dias da semana. Felizmente, como eu trabalho com essa área de esportes, é comum eu chegar em uma reunião de capacete por ter ido de bike, e isso é visto com bons olhos pelas pessoas. Fazer a atividade que você vende.
Seus projetos com as corridas de rua e eventos trazem quais tipos de recompensas pessoais e profissionais?
A corrida de rua, seja organizando ou praticando, já te traz várias recompensas. A primeira é que você fica mais saudável, equilibrado, disposto e obviamente isso repercute na vida pessoal e profissional, além de trabalhar com aquilo que eu gosto. Eu respiro corrida, vivo corrida 24 horas no meu dia. É óbvio que eu tenho uma vida fora disso, tenho família, amigos, organizo eventos com outros temas, mas a corrida também me ajuda a conhecer gente interessante, lugares, traz até novos negócios, clientes, parceiros… Você também pode viajar, conhecer o mundo… Hoje eu tenho parceiros no Chile, Argentina, Israel, tudo através da corrida, então são muitas recompensas.
As corridas de rua hoje são muito importantes no calendário do brasileiro. Por que você considera que a aceitação seja tão grande?
Eu acredito que essa aceitação vem pela facilidade no acesso. Existe aquele slogan de que “correr é fácil, basta colocar um tênis”, que eu discordo, porque correr envolve o corpo humano e estamos falando de ciência, já que o corpo funciona como uma máquina, mas o acesso fácil é o grande aliado, porque hoje temos muita informação online sobre corridas, vários canais com publicações e conhecimento sobre o assunto, jornais, canais no Youtube… Eu também penso que a corrida tem mais a ver com esse estilo de vida mais moderno, contemporâneo, é cool correr hoje e as pessoas estão procurando isso. Apesar de ser individual, você sempre faz amigos… Além da integração com a natureza que ocorre no parque, nas avenidas, trilhas, na orla.
Quais são as maiores dificuldades do seu trabalho?
A maior dificuldade é estar conectado a isso 24 horas por dia. Por exemplo: ter que atender um seguidor em alguma rede social às 11 horas da noite querendo saber dicas e informações sobre algum tênis ou prova. É uma dificuldade, mas é gostoso. Tem algo melhor do que trabalhar com aquilo que é seu próprio lazer? Uma grande dificuldade na organização de eventos de corrida é lidar com aquela máxima de que “a rua é pública, então eu não preciso pagar inscrição”. Eu dou sempre o exemplo da feira: ninguém chega em uma barraca e pega a fruta de graça alegando que a rua é pública, porque naquele momento a via está alugada para o empresário fazer o negócio dele, e nas corridas é a mesma coisa, mas muitos ainda não entendem e acham que as provas devem ser gratuitas. A prefeitura e os órgãos públicos cobram e existe uma série de custos que o organizador paga para alugar a rua para aquele momento.
Para a produção de eventos é preciso estar atento a diversos fatores. Como você faz a gestão de clientes e recursos no processo?
Quando você faz um evento de corrida de rua, você tem vários clientes: o corredor que fez a inscrição, parceiros, patrocinadores… É preciso usar nossa inteligência para fazer esse trabalho e poder agradar cada perfil. Temos que tomar muito cuidado, porque a corrida é uma experiência, um momento de emoção de quem está lá correndo, então o mais importante é isso. No que diz respeito aos recursos, falar sobre eles hoje no Brasil é complicado, porque cada vez a gente tem menos investimento nos esportes. Sou a favor de que a lei de incentivo ao esporte seja igual à da cultura, por exemplo, onde você não precisa ser uma ONG para apresentar um projeto, podendo ser empresa. Depois da Rio 2016, com essa crise no país, está sendo muito difícil fazer a gestão de recursos e criar novos projetos.
Quais são os novos projetos que estão a caminho para esses eventos de rua?
O mercado cresce a cada ano e vai continuar assim, porque são novas corridas todos os anos, principalmente em São Paulo. Eu acho que precisa haver um controle maior, já que não precisamos de mais provas, mas sim de mais qualidade. O que podemos esperar para os próximos anos é uma melhora na questão do entretenimento, visto que corrida de rua é a experiência. Acho que também podemos esperar um crescimento das maratonas. O percurso de 42 quilômetros é icônico e vem crescendo o número de praticantes, então acho que as maratonas brasileiras precisam virar ferramenta de turismo para as cidades que as abrigam, assim como ocorre nas cidades pelo mundo. Isso atrai um número de turistas muito grande, mas isso ainda não é trabalhado aqui como é lá fora, em Nova Iorque, Berlim, Santiago… O Brasil precisa fazer um trabalho ligado a isso.
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