29 de julho de 2014

Entrevista: Sidnei Oliveira

Em 1995, o empresário Sidnei Oliveira abriu um dos primeiros sites de buscas do Brasil e se deparou com um grande desafio: compor uma equipe em um ramo de atividade novo, sem referenciais de empresas e cursos técnicos de formação para internet. Na época, os únicos habilitados eram jovens entre 15 e 18 anos, multitarefas, informais e avessos às estruturas rígidas de trabalho.

A partir desse problema, surgiu o interesse em investigar esse novo comportamento profissional. Com isso, Sidnei se tornou expert em jovens talentos e autor de livros importantes sobre a famosa “Geração Y”. Nessa entrevista, o consultor e palestrante fala sobre as motivações dessa geração, trabalho colaborativo, a geração Z e muito mais.


A geração Y foi considerada como a de maior potencial da história. Com base no seu trabalho, como vê a evolução desses jovens ao longo dos anos na vida profissional?

Ela foi considerada a de maior potencial da história, mas isso não se manifestou na envergadura que se esperava – o que deu margem a todo tipo de estereótipos para classificar os jovens.

De certa forma, o mercado ficou um pouco frustrado, pois via os jovens como agentes de transformação. Contudo, eles são percebidos apenas como críticos e reivindicadores das mudanças, não como protagonistas.

Felizmente, esse cenário está mudando, pois os jovens da Geração Y estão ficando velhos e percebem que o mundo corporativo não muda na velocidade que esperam. Agora, o que se vê são jovens que sabem que precisam participar das transformações.


Em um dos seus textos, você compara a jovem seleção brasileira do Mundial 2014 com os jovens dos últimos 25 anos e os nomeia de “geração de cristal”. Na vida pessoal e profissional, como você descreveria essa geração?

O contexto social dos últimos anos e a estabilidade econômica proporcionou um cenário de mais privilégios e fez do jovem de hoje, um indivíduo poupado de frustrações. Com isso, é possível identificar um jovem mais frágil e superficial em relação às próprias escolhas, tanto na vida profissional como na pessoal.


Pensando nisso, como o jovem enfrenta e supera o fracasso?

As primeiras reações são de indignação e paralisia diante do fracasso, pois não sabem como lidar com a situação. Devemos lembrar que esse jovem não foi educado para fracassar, mas sim para ser sucesso sempre. Isso provoca insegurança diante de qualquer resultado fora das expectativas.

O jovem está aprendendo a superar o fracasso da mesma forma que as outras gerações tiveram que aprender – através das próprias cicatrizes. Isso é bom, pois significa que a geração Y está amadurecendo.


A rotatividade de emprego é uma das características dos jovens de hoje. Como a empresa deve engajar esses jovens para mantê-los na empresa?

A geração Y tem uma energia característica da própria juventude, a ousadia para “quebrar paradigmas” e promover inovações que podem diferenciar a empresa.
Nesse sentido, a organização precisa criar um ambiente para isso. Não adianta contratar jovens para inovar e depois exigir dele que faça seu trabalho somente de acordo com os procedimentos que “sempre foram assim e sempre deram resultados”. O jovem da geração Y não convive com esse cenário por muito tempo.

Outra coisa que pode ser feita é transformar o papel dos veteranos. É hora de eles assumirem atitudes educadoras e deixar os desafios de execução com os jovens. Para assim, promover uma integração entre as gerações com o desenvolvimento da relação mentor e aprendiz.


Tendência na gestão de empresas, o trabalho colaborativo pode ser uma alternativa para manter talentos?

Sim, esse é o caminho. No trabalho colaborativo, o foco é totalmente nas conexões pessoais, isso permite a realização do trabalho em qualquer momento e em qualquer lugar, o que promove melhores condições de equilíbrio de vida ao profissional. O resultado é alcançado de forma genuína, pois existe o verdadeiro engajamento dos profissionais, que sempre foram e serão movidos pelo compartilhamento de propósitos.


Nos últimos anos, tem acontecido o encontro de gerações (X, Y e agora surge a Z).  Como as empresas devem lidar com esse choque entre gerações?

Observa-se que usar a flexibilidade e a inovação são formas que exploram melhor o potencial da Geração Y.
Um processo que precisa ser melhor assimilado é a acessibilidade. Eles atuam totalmente conectados. Ampliar o acesso do jovem a essas ferramentas é prioritário nos próximos anos.

O papel do RH é trabalhar a interação entre veteranos e jovens. Conflitos existem, mas a melhor forma de lidar com isso é refinar a comunicação, conscientizando de que há contribuições mútuas que podem e devem ser consideradas.

Quando a empresa trabalha as diferentes gerações, permite que os mais jovens possam agregar velocidade e inovação aos negócios, sem que isso represente riscos elevados, pois com a experiência dos veteranos, a empresa pode alavancar seus resultados com segurança.


Quais as habilidades que os jovens precisam desenvolver para serem bem-sucedidos em suas escolhas?

Paciência e estratégia – o jovem deseja e pede feedback de todas as suas ações, contudo essa busca de reconhecimento constante afeta seu desempenho e seu foco nos objetivos.

Foco em inovação – buscar a mudança é uma característica da geração e um de seus principais instrumentos são os questionamentos. Porém, se isso ocorre sem uma estratégia, é possível que os questionamentos sejam confundidos com confrontos, que bloqueiam a possibilidade de inovações.

Resiliência – muitas vezes considerada destrutiva nas organizações, uma vez que coloca dúvidas sobre modelos e padrões estabelecidos, ela precisa ser entendida não como algo irresponsável, mas sim como uma busca de flexibilização.

Foco em resultados – os jovens gostam de saber seus resultados e  gostam de compartilhar. A armadilha se instala quando a competitividade destrói os valores e os resultados são alcançados no melhor estilo CQC – custe o que custar.

A dinâmica do mundo atual é menos estruturada, mais flexível e abstrata, criando um modelo digital que permite a simultaneidade de atividades. Qualquer pessoa pode desenvolver a capacidade de ser multitarefas, a diferença está no ritmo que isso ocorre. Nos veteranos, essa mudança é bem mais lenta que nos jovens da Geração Y e Z, mas é preciso que aconteça.

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