Liderança feminina: entrevista com Cintia Leitão de Souza
A liderança feminina já é realidade em muitas organizações, ainda que em menor quantidade, cada vez mais as mulheres conquistam cargos de alto escalão que antes eram exclusivamente masculinos. Em recente estudo da Ernst & Young sobre liderança feminina constatou-se que em 64% das empresas de alta performance homens e mulheres têm igual influência na estratégia dentro das suas organizações. Entre as companhias analisadas, as que apresentam melhores resultados econômicos são aquelas que estão fazendo mais para encorajar a presença feminina, com carga horária flexível e programas de liderança voltados para o público feminino.
Em entrevista exclusiva para o Transamerica Expo Center, Cintia Leitão de Souza – Gerente de Estratégia de Acesso ao Mercado na Syngenta, formada em Direito pela Universidade Estadual de Londrina, com perfil de liderança, olhar empreendedor e habilidade para trabalhar em equipe – compartilhou sua visão da liderança feminina no atual mercado de trabalho e como a inserção de mulheres em postos de comando influenciam positivamente as corporações. Confira:
Grande parte do universo das corporações é composta por homens, mas cada vez mais as mulheres têm assumido papéis de liderança em ambientes corporativos. A quais fatores você atribui este crescimento?
Acredito que a presença masculina no universo das corporações é atribuída a uma questão cultural que de fato vem mudando ao longo dos anos. Homens e mulheres ocuparam historicamente papéis diferentes na sociedade que sempre foram atribuídos a questões de gênero, masculino e feminino. A evolução do papel da mulher veio em decorrência de direitos que foram assegurados às mulheres, como por exemplo, o voto. Na sociedade ocidental a mulher deixou de simplesmente ser responsável pelos afazeres domésticos e ingressou no mercado de trabalho deixando de ter obrigações apenas como mãe e esposa. Cada vez mais, a mulher ocupa um lugar ativo e representativo, na família, na sociedade, nas empresas e, consequentemente, em posições de liderança. É uma evolução cultural e uma conquista de espaço, onde se comprova que a diversidade, a composição das diferenças dos gêneros, se complementam. As mulheres têm assumido diferentes funções e têm maior autonomia e liberdade de expressão e decisão, bem como voz crítica. A sociedade moderna não atribui mais diferenças entre homens e mulheres. Apesar de termos muito ainda a evoluir quando se fala de direitos igualitários. Acredito que a diversidade de papéis exercidos pelas mulheres historicamente, atribue a elas uma maior flexibilidade e resilência a questões complexas de um mundo globalizado, requisitos atribuídos e essenciais às grandes corporações do mundo moderno.
Quais foram as barreiras e dificuldades pelas quais você passou para chegar a um posto de liderança? Por qual motivo você acredita que aconteceram essas situações?
Tenho construído minha carreira essencialmente em segmentos de mercado tidos como “masculinos”. Iniciei minha carreira na indústria de bebidas e, posteriormente, ingressei no agronegócio onde atuo há onze anos. Culturalmente, ambos os setores tinham grande parte dos cargos ocupados por homens, realidade que vem mudando também gradativamente. Ocupei posições de liderança ainda muito jovem, um fator a mais a ser vencido em função, não apenas do gênero, mas da idade. Quando se fala em “liderança” – que em sua definição mais clara e ampla, atribui-se a capacidade de motivar, engajar e influenciar pessoas – acredito que as mulheres têm desempenhado um papel fundamental na liderança moderna. As mulheres têm uma inteligência emocional e percepção sensoriais diferenciadas. No ambiente atual de competitividade global, as mulheres passam a perceber, de uma forma mais dinâmica e sistêmica, a necessidade de se utilizar métodos mais eficientes e humanos para inspirar e engajar pessoas a atingirem resultados. As mulheres influenciam através do cultivo das relações pessoais e da articulação em grupos, fazendo com que os projetos virem causas. Das lições e aprendizados que tive e tenho, acredito que estas características são fatores fundamentais no sucesso da mulher no mercado de trabalho e são as mesmas que me trouxeram até aqui. Por outro lado, considero fundamental que a mulher tenha uma postura firme de influenciadora, que se manifeste sempre com conceitos muito bem fundamentados e que tenha sempre uma postura exemplar, reta e firme. Desta forma conquistamos nosso espaço em setores mais masculinos e conquistamos respeito e admiração pelos mesmos.
A mulher como líder é tratada com o mesmo respeito que um homem líder? A quais motivos você atribui isso?
Eu acredito que sim quando a mulher consegue demonstrar que é preparada para a função que ocupa. Assim como todos os profissionais. Acredito, por outro lado, que a mulher ainda deve se preparar muito mais que o homem para ocupar este espaço. De fato ela precisa comprovar sua capacidade e competência. A partir daí, é tão respeitada quanto os homens.
Ter mulheres nos postos de comando dentro de grandes organizações leva a quais tipos de mudanças e benefícios para essas empresas?
Em minha opinião, o estilo feminino de liderança está fundamentado em pessoas, em propósitos, em realizações de metas comuns a todos e na obtenção de resultados decorrentes do engajamento de todos. O tipo de liderança absoluta, do tipo de comando e controle, perdeu força e não funciona mais. As empresas precisam de pessoas que inspirem outras e que consigam extrair dos outros o melhor. Acredito que as mulheres desenvolvem muito bem este papel por terem o perfil de consultarem mais as pessoas de uma forma colaborativa, têm a tendência natural em lidar com a multiplicidade de tarefas e tendem a concentrar-se na perspectiva geral durante um processo de tomada de decisão.
Quais os diferenciais que você pode apontar entre a liderança feminina e a liderança masculina? Por qual motivo?
Acredito que a riqueza da diferença dos gêneros complementa o desempenho profissional de homens e mulheres. A diversidade se faz necessária. O ponto fundamental é que os valores pessoais dos profissionais, independente do gênero, estejam alinhados com os da organização. As relações entre a clareza dos valores pessoais e organizacionais são intrínsecas e fortemente relacionadas.
Como a Syngenta tem se comportado para promover a igualdade de gêneros nos postos de comando?
A Syngenta possui uma posição ativa na discussão da inclusão da diversidade. Existe um Comitê constituído por uma equipe multidisciplinar que tem o apoio da alta liderança que promove ações e debates sobre o tema.
Qual mensagem você passaria para as mulheres que vêm tentando alcançar um cargo de liderança dentro das organizações ou até mesmo abrir sua própria empresa?
O primeiro ponto que destacaria é que líderes não falam apenas por si, mas pelas organizações e por sua equipe. Independente do gênero, foquem no constante aprendizado, estejam preparadas conceitualmente e antenadas a tudo o que acontece no mercado. Sejam pró-ativas e tenham uma postura colaborativa e reta, firme e justa. Peça e dê feedbacks constantemente, se preocupe em engajar e inspirar pessoas para que acreditem em uma causa. Desta forma, as pessoas se comprometem e se empenham na obtenção dos resultados. Não tenha o trabalho como um fim, mas um meio para a satisfação pessoal.
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